Imagine um carro sem freios, passando por uma curva... sem a disciplina dos freios, o que aconteceria?
O problema básico que atrapalha a libertação dos condicionamentos que nos oprimem e nos deixam no cárcere da ignorância, são as crenças inquestionáveis que acalentamos, pois não questionarmos algo, o aceitamos como verdade indestrutível e ponto final.
Nossa mente tem a capacidade de observar, questionar, experimentar, comparar, tomar conclusões temporárias, reavaliar e tomar novas conclusões, possibilitando assim, avançar na sabedoria, deixando as trevas da ignorância para trás, agradecendo a experiência de viver e aprender.
Logo, nossa mente, se bem questionada, pode manifestar a sua natureza fundamental de pureza e transparência, capaz de estar livre das nuvens de conceitos, preconceitos e superstições.
Quando digo: "sou raivoso" ou "sou deprimido", estou identificado com um momento transitório, tomando-o como definitivo.
Me derroto e me saboto por minha própria ignorância.
Quando deixo aberto espaço para questionamentos, logo percebo que pode haver saídas, ainda que estas venham a me exigir deixar minha zona de conforto e segurança.
Se percebe que a disciplina só é executada por alguém que realmente está cansado de perambular pelas ruas da ignorância (desconhecimento da verdade) e que agora está resoluto e cheio de coragem de utilizar das armas para combater o bom combate:
- coragem (de encarar a verdade frente a frente);
- autosacrifício (deixar vícios e ilusões carinhosamente acalentados);
- autorenúncia (deixar de valorizar a personalidade transitória do EGO psicológico em favor de uma realidade maior e indestrutível, o VERDADEIRO EU);
- auto-abnegação (não desistir da luta por nada).
Este indivíduo não pode ser qualquer um, mas antes alguém que passe pelo autoburilamento, desbastando vícios e hábitos preconceituosos até perceber realmente o que é verdade ou mentira em sua vida. A Verdade nem sempre é agradável de se ver (daí a necessidade de coragem).
Como não pode haver pressa na autoconquista, até porque sabemos da imortalidade da centelha divina que somos, é necessário um caminho e ter disciplina neste caminho. Seu fim é a fusão do ego ou alma em evolução com a alma Universal.
Até para dar o primeiro passo em direção à libertação é necessário primeiro saber observar a mente cheia de desejos e medos.
O que vou ganhar?
O que me acontecerá?
O que vou perder?
Logo o primeiro passo é apenas observar a minha mente, que quer ser independente do meu ser, influenciando-me 24 horas do dia. Mas o "Eu" e a mente não são unos.
A mente é um instrumento cuja finalidade é de me posicionar e me fornecer dados para que o "Eu", ainda não consciente, possa interagir com o universo em derredor.
Problema surge é quando o " Eu" ainda ignorante da sua condição de Rei, aceita e identifica-se com as informações da mente súdita).
Mas apenas por enquanto fiquemos a meditar na disciplina... realmente desejamos ter o controle em nossas vidas ou o papel que desempenhamos nesta peça que é o viver encarnado está suficiente?
Estou disposto a me tornar dono de minha vida e destino ou isso é para pessoas que não têm mais o que fazer com o tempo livre?
Pode sobrar uma pergunta: "disciplina para que?"
Podemos responder: "Apenas para que você descubra a verdade... e conhecendo a Verdade, você será realmente livre".
A maioria de nós acredita ser livre apenas porque se desloca para onde deseja ir
(movimento) ou por que pensa o que bem quiser (liberdade de pensamento) ou ainda porque escolhe este ou aquele destino, estilo de roupa, trabalho, amizades, etc.
Mas esta é uma visão reducionista de vida e está baseada mais em reações por atração da lei de menor esforço ou daquilo que aparenta ser agradável do que numa tomada de decisão refletida, ponderada e consciente (quantas vezes já não nos arrependemos de ter tomado uma decisão errada apenas por não termos investido mais tempo em conjecturas e reflexões?)
Encontramos o convite à disciplina em todos os livros sábios da Antiguidade. A maioria tinha apenas desejos de fugir da dor ou de buscar o prazer. Poucos tinham se preparado com a disciplina para obter a sabedoria.
A disciplina é essencial não apenas no Yoga e sim em qualquer fato de nossa vida que nos catapulte para um estado superior de conscientização.
A disciplina em essência é a chave que abre todas as portas.
Sem chave, sem saídas.
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