Conta uma lenda que no principio do mundo, quando Deus decidiu criar a mulher, viu que havia esgotado todos os materiais sólidos no homem e não tinha mais do que dispor. Diante deste dilema e depois de uma profunda meditação, fez isso:
Pegou a forma arredondada da lua...
as suaves curvas das ondas...
a terna aderência das bromélias...
o trêmulo movimento das folhas...
a forma esbelta da palmeira...
a nuance delicada das flores...
o amoroso olhar do cervo...
a alegria do raio de sol...
e as gotas do choro das nuvens...
a inconstância do vento...
e a fidelidade do cão...
a timidez da tartaruga...
e a vaidade do pavão...
a suavidade da pena do cisne...
e a dureza do diamante...
a doçura da pomba...
e a crueldade do tigre...
o ardor do fogo...
e a frieza da neve.
Misturou ingredientes tão diferentes, formou a mulher e deu ao homem.
Depois de uma semana veio o homem e lhe disse:
- Senhor, a criatura que você deu me faz desgostoso...
- quer toda minha atenção
- nunca me deixa sozinho
- fala sem parar
- chora sem motivo
- se diverte em me fazer sofrer
- e venho a devolvê-la porque NÃO POSSO VIVER COM ELA.
“- Bem”, respondeu Deus e pegou a mulher.
Se passou outra semana, o homem voltou e lhe disse:
- Senhor, me encontro muito sozinho desde que eu devolvi a criatura que fizeste para mim, ela cantava e brincava ao meu lado, me olhava com ternura e o seu olhar era uma carícia, ria e seu riso era música, era bonita de se ver e suave ao tato.
Devolva-me, porque NÃO POSSO VIVER SEM ELA.
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