Será que bebi ou vivi demais?
A covardia está encontrando terreno fértil em mim. Digo que prefiro o turismo interno, para não declarar que bombas, terremotos, tsunamis me prendem a esse solo varonil. Salve-salve o Brasil.
A fraqueza também travou minha língua. Tenho deixado de devolver varadas verbais, principalmente oriundas de folhas secas de minha árvore genealógica (família é droga pesada, é crack, dependência eterna) com a desculpa de não querer alimentar rancores. Mentira! Sinto receio de me magoar mais ainda com essa herança forçada.
O temor teima em vendar meus olhos para que eu não leia tanto sobre esses tiranos da democracia. Não me falem apenas de Kadafi. Têm tantos por aí com fantasias e alegorias de paz. Ganham até Nobel!
Por onde anda minha juvenil valentia? Será que foi a idade que me fez bailarina pequenina e frágil que só se expõe dentro de uma caixinha de música? Tenho escrito pouco por total falta de ânimo. O antônimo, esse maldito desânimo, é acovardamento. É sim. Sem exposição, sem preocupação.
E eu, que já falei tanto, briguei pra cacete, andei torta, voei alto, não sei o exato momento em que passei a guardar minhas palavras de protesto na garganta, esconder minhas asas no fundo de um baú, permitir conformada que a flor que sempre existiu em mim começasse a murchar. Também... Sem luz!
Mas, como posso teimar em continuar a querer o infinito, vendo em volta o tédio, quase geral, com a lua e o cheiro de césio, quase total, comprometendo a criança que ainda vem?
Só torço para que esse acovardamento caduco não me faça engolir os beijos que estão em meus lábios e eu ainda não lhe dei.
No mais passa a régua e fecha a conta. Será que bebi ou vivi demais?
autora: Rosa Pena
09/04/2011
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