domingo, 16 de outubro de 2011

Ser transparente

Às vezes, fico me perguntando porque é tão difícil ser transparente...

Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero, não enganar os outros. Mas ser transparente é muito mais do que isso.

É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que sente...

Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair as máscaras, baixar as armas, destruir os imensos muros que insistimos tanto em nos empenhar para levantar...

Ser transparente é permitir que a doçura aflore, transborde...

Mas, infelizmente, a maioria decide não correr esse risco.

Preferimos a dureza da razão à leveza reveladora da fragilidade humana.

Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam da alma...

Preferimos nos perder numa busca insana por respostas a simplesmente admitir que não sabemos nada e que temos medo!

Por mais doloroso que seja ter de construir uma máscara que nos distancia cada vez mais de quem realmente somos, preferimos assim: manter uma imagem que nos dê a sensação de proteção.

E assim, vamos nos afogando mais e mais em falsas palavras, em falsas atitudes, em falsos sentimentos...

Não porque sejamos pessoas mentirosas, mas apenas porque nos perdemos de nós mesmos e já não sabemos onde está nossa brandura, nosso amor mais intenso e não-contaminado...

Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar: doçura, compaixão, a compreensão de que todos nós sofremos, nos sentimos sós, imensamente tristes.

Uma saudade desesperada de nós mesmos, daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas que não temos coragem de mostrar...

Porque, infelizmente, aprendemos que é melhor revidar, descontar, agredir, acusar, criticar e julgar do que simplesmente dizer: "você está me machucando... pode parar, por favor!”.

Porque aprendemos que isso é ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro! Quando, na verdade, agir com o coração, poupa a dor...

Sugiro que deixemos explodir toda a doçura!

Que consigamos não prender o choro, não conter a gargalhada, não esconder tanto o nosso medo, não desejar parecer tão invencíveis...

Que consigamos não tentar controlar tanto, responder tanto, competir tanto...

Que consigamos docemente viver... sentir, amar.

Rosana Braga

Nenhum comentário:

Postar um comentário