domingo, 29 de janeiro de 2012

Os girassóis e nós...

Eles são submissos. Mas não há sofrimento nesta submissão. A sabedoria vegetal os conduz a uma forma de seguimento surpreendente.

Fidelidade incondicional que os determina no mundo, mas sem escravizá-los.

A lógica é simples.


Não há conflito naquele que está no lugar certo, fazendo o que deveria.
É regra da vida que não passa pela força do argumento,
nem tampouco no aprendizado dos livros.

É força natural que conduz o caule, ordenando e determinando que a rosa realize o giro, toda vez que mudar a direção do Regente.

Estão mergulhados numa forma de saber milenar,
regra que a criação fez questão de deixar na memória da espécie.

Eles não podem sobreviver sem a força que os ilumina.

Por isso, estão entregues aos intermitentes e místicos movimentos de procura.
Eles giram e querem o sol.

Eles são girassóis. Deles me aproximo. Penso no meu destino de ser humano.

Penso no quanto eu também sou necessitado de voltar-me para uma força regente, absoluta, determinante. Preciso de Deus.

Se para Ele não me volto, corro o risco de me desprender de minha possibilidade de ser feliz. É Nele que meu sentido está todo contido.

Ele resguarda o infinito de tudo o que ainda posso ser. Descubro maravilhado.

Mas no finito que me envolve posso descobrir o desafio de antecipar, no tempo,
o que Nele já está realizado.

Então intuo...
Deus me dá aos poucos, em partes, dia a dia, em fragmentos.

Eu Dele me recebo, assim como o girassol se recebe do sol,
porque não pode sobreviver sem sua luz.


A flor condensa, ainda que de forma limitada,
porque é criatura, o todo de sua natureza que o sol potencializa.

O mesmo é comigo.
O mesmo é com você.

Deus é nosso sol, e nós não poderíamos chegar a ser quem somos, em essência,
se Nele não colocarmos a direção dos nossos olhos.

Cada vez que o nosso olhar se desvia de sua regência, incorremos no risco de fazer ser o nosso sol o que na verdade não passa de luz artificial.

A vida é o lugar da Revelação divina.
É na força da história que descobrimos os rastros do Sagrado.

Não há nenhum problema em descobrir nas realidades humanas algumas escadarias que possam nos ajudar a chegar ao céu.

Mas não podemos pensar que a escadaria é o lugar definitivo de nossa busca.

Parar os nossos olhos no humano que nos fala sobre Deus é o mesmo que distribuir fragmentos de pólvora pelos cômodos de nossa morada.
Um risco que não podemos correr.

Tudo o que é humano é frágil, temporário, limitado.
Não é ele que pode nos salvar. Ele é apenas um condutor. É depois dele que podemos encontrar o que verdadeiramente importa.

Ele, o fundamento de tudo o que nos faz ser o que somos.
Ele, o Criador de toda realidade.
Deus trino, onipotente, fonte de toda luz.

Sejamos como os girassóis...

Uma coisa é certa. Nós estamos todos num mesmo campo.

Há em cada um de nós uma essência que nos orienta para o verdadeiro lugar a que precisamos chegar, mas nem sempre realizamos o movimento da procura pela luz.

Sejamos afeitos a este movimento místico, natural.
Não prenda os seus olhos no oposto de sua felicidade.

Não queira o engano dos artifícios que insistem em distrair a nossa percepção.

Não podemos substituir o essencial pelo acidental.
É a nossa realização que está em jogo.

Girassol só pode ser feliz, se para o Sol estiver orientado.
É por isso que eles não perdem tempo com as sombras.

Eles já sabem, mas nós precisamos aprender.

Pe. Fábio de Melo

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